Segundo as investigações preliminares, o superiate pode ter sido atingido por uma tromba d’água formada a partir de uma forte instabilidade atmosférica

Superiate Bayesian — Foto: Divulgação/Perini Navi

A agressividade com que o superiate de luxo Bayesian naufragou na costa da Sicília, na Itália, chamou atenção de especialistas ouvidos pela imprensa local. Segundo eles, pelo menos três problemas graves podem ter contribuído para o desastre: a área não tem cobertura contínua de radar meteorológico, forças ascendentes e o posicionamento incorreto da embarcação para um momento de tempestade.

As investigações preliminares indicam que as condições climáticas foram a principal causa do naufrágio. Em entrevista ao Corriere Della Sera, Francesco De Martin, especialista em eventos climáticos extremos da Universidade de Bolonha, disse que “o radar é a melhor ferramenta, mas verificamos e a área do acidente tem cobertura radar descontínua”.,

Construído em 2008, o iate tinha capacidade para acomodar 12 passageiros — Foto: Duivulgação / Yacht Charters Fleet

A falta de informações meteorológicas contínuas, portanto, pode ter impactado o tempo de reação da tripulação. Segundo De Martin, o radar antecipa a chegada de uma forte tempestade em 10 ou 15 minutos, “talvez muito pouco para manobrar o barco e chegar em segurança".

Outro aspecto importante citado pelos especialistas ouvidos pelo jornal italiano é que forças ascendentes e descendentes desorganizadas afetaram completamente o equilíbrio da embarcação. O enorme mastro de 75 metros provavelmente sofreu altíssimas compressões, e o superiate se viu “dentro de um liquidificador”.

— O mastro serve para apoiar as velas e permitir a propulsão da vela, mas com o vento também entra em jogo uma força lateral que faz com que o barco tombe . O bulbo, uma espécie de contrapeso localizado sob o barco, gera um torque de endireitamento capaz de estabilizá-lo — disse Andrea Ratti, professor da Politécnica de Milão, ao Corriere Della Sera.

Mulher acompanha operação de resgate — Foto: Alberto PIZZOLI / AFP

O terceiro fator constatado foi simplesmente “estar no lugar errado na hora errada”, observou Salvatore Cocina, gerente geral da Proteção Civil da Região da Sicília. Apesar das condições climáticas extremas enfrentadas, Rosario Marretta, professora de Dinâmica de Fluidos Computacional da Universidade de Palermo, questiona se o barco estava realmente no lugar errado, ou seja, perto demais da costa .

— Devemos perguntar-nos porquê, com um agravamento significativo do boletim meteorológico, o barco estava no meio da noite a uma distância que não era a distância segura da costa.

A tromba d’água

Segundo as investigações preliminares, o superiate pode ter sido atingido por uma tromba d’água formada a partir de uma forte instabilidade atmosférica, com uma camada de ar mais frio que fica sobre uma camada de ar mais quente e úmido, como acontece com uma tempestade.

Movimentos verticais fazem com que o vento circule em forma de vórtice, com uma depressão profunda no centro da coluna e ventos de até centenas de quilômetros por hora nas bordas.

A duração do fenômeno pode ser de alguns minutos e afetar uma área com diâmetro de algumas centenas de metros. As trombas d'água raramente alcançam a costa, onde desaparecem rapidamente.

O naufrágio

Tudo indica que os turistas dormiam em suas cabines quando o iate foi atingido por volta das 5h. A situação piorou em poucos minutos, o mastro do veleiro, de 75 metros de altura, quebrou, e as fortes rajadas de vento fizeram o veleiro tombar para o lado. O barco ainda chegou a levantar novamente antes de afundar.

Entre as pessoas que estavam a bordo no momento da tragédia, algumas conseguiram subir ao convés, outras se encontraram na água em muito pouco tempo e não souberam explicar como conseguiram se salvar.

Fonte: O GLOBO