Maior aliado do prefeito foi rifado após a revelação de um vídeo íntimo gravado em ligação de WhatsApp por uma mulher que ele conheceu em 2020

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), bateu o martelo nesta quinta e definiu o deputado estadual Eduardo Cavaliere como vice em sua chapa à reeleição. Com apenas 29 anos, Cavaliere venceu uma corrida interna no PSD que tinha como principal cotado o deputado federal Pedro Paulo, maior aliado de Paes na política. Em Brasília, o prefeito comunicou a decisão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apoia sua candidatura. A informação foi antecipada pelo GLOBO.
Desgastado pela revelação de um vídeo íntimo gravado em ligação de WhatsApp por uma mulher que conheceu em 2020, Pedro Paulo foi rifado. Nos últimos meses, a preferência de Paes por ele chegou a ser considerada quase inegociável — o plano “A, B e C”. Na semana passada, o próprio deputado disse a Paes que havia desistido da indicação, mas o movimento foi encarado mais como um teste para a repercussão do vídeo do que uma desistência real.

A confirmação encerrou a principal novela do período pré-eleitoral no Rio. Paes sempre deu a entender que formaria uma chapa puro-sangue do PSD, mas partidos aliados, como o PT, reivindicaram a vaga até perceberem que o esforço era em vão. O prefeito não abriu mão de colocar um aliado de máxima confiança porque tende a deixar o novo mandato no meio, caso reeleito, para disputar o governo do estado em 2026. Com isso, Cavaliere assumiria a prefeitura. O jovem parlamentar era chefe da Casa Civil até junho deste ano.

Na prática, a decisão é um baque na dinâmica entre Paes e Pedro Paulo, que caminham juntos há cerca de três décadas. E representa outro revés de cunho eleitoral para o deputado, que foi derrotado na disputa para prefeito em 2016 após a candidatura ser uma aposta de Paes — contra conselhos de vários aliados. No início do ano, outro momento em que o deputado teve expectativas frustradas foi em relação à nomeação para o Ministério do Turismo.

Além do caso do vídeo íntimo, o principal parceiro de Paes na vida pública também despertava preocupação na campanha por causa de um episódio do passado: a acusação de ter batido na ex-mulher — que, apesar de arquivada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR), permaneceu viva enquanto fato político. Foi justamente isso que o prejudicou na campanha de 2016, quando sequer chegou ao segundo turno da eleição municipal.

Prós e contras


Nas últimas semanas, interlocutores vinham observando um Eduardo Paes imerso no processo decisório, tido por alguns como o mais difícil de toda a carreira dele. Equilibrar na balança o apreço singular que nutre por Pedro Paulo, visto como o mais preparado para a linha sucessória da prefeitura, e o possível desgaste que o deputado levaria à campanha foi algo que deixou o prefeito ansioso e exigiu intensa reflexão.

Alguns sinais nos últimos dias, desde a revelação da história do vídeo íntimo, fizeram aliados se dividirem sobre seus sentidos. Houve quem lesse a efusiva declaração de Paes sobre a importância de Pedro Paulo no caso do estádio do Flamengo como um recado de que ele tinha voltado a ser o favorito para a vice. Outros viram nisso uma forma de intensificar uma espécie de “saída honrosa” para o deputado.

Cavaliere passou à frente numa fila sucessória que Pedro Paulo “congelava” desde 2016. Outras opções do próprio PSD consideradas nos últimos meses foram o também deputado estadual Guilherme Schleder e o presidente da Câmara Municipal, Carlo Caiado. Para alguns aliados que acompanharam as costuras, Paes falhou ao não deixar à disposição os secretários de Governo, Felipe Santa Cruz, e de Saúde, Daniel Soranz, que ofereceriam a ele perfis diferentes — e mais experientes que Cavaliere — caso Pedro Paulo de fato fosse rifado. Os dois não foram exonerados dos cargos no prazo exigido pela Justiça Eleitoral.

Paes se pronunciou na quinta à noite sobre a escolha. Em nota, disse que a atitude de Pedro Paulo de pedir para não ser o vice — e “colocar a família em primeiro lugar” — fez com que crescesse “ainda mais a minha admiração e o meu respeito por ele”.

“O deputado estadual Eduardo Cavaliere, eleito pela cidade do Rio de Janeiro, é um jovem político que, desde cedo, demonstra seu comprometimento com o Rio”, afirmou sobre o escolhido.

Satisfação a Lula


Mesmo deixando nas entrelinhas há meses que não escolheria um petista, Paes prometeu a Lula que não tomaria uma decisão sem conversar com ele. Na manhã desta quinta, o prefeito embarcou para Brasília e contou ao presidente antes mesmo de importantes aliados no Rio terem a certeza de quem seria o escolhido.

Pedro Paulo, inclusive, enfrentava resistências no PT por ter votado a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. O voto chegou a motivar um pedido de desculpas durante um almoço em 2021, quando Lula começava a construir a candidatura presidencial do ano seguinte.

Os reveses de Pedro Paulo

Eleição de 2016: Mesmo com a revelação do processo de violência doméstica contra a ex-mulher, arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Pedro Paulo seguiu como o escolhido de Eduardo Paes para sucedê-lo na prefeitura. O deputado ficou em terceiro colocado na disputa e não foi sequer ao segundo turno, depois de o episódio ter sido explorado por adversários durante toda a campanha.

Ministério do Turismo: Na transição entre os governos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal foi cotado para assumir o Ministério do Turismo. A nomeação chegou a ser considerada avançada, mas ruiu. Relatos da época citavam a suposta influência da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, para vetar a escolha do aliado de Paes, por causa do episódio da ex-mulher.
Vice em 2024: O cenário este ano parecia perfeito para Paes emplacar o maior aliado na vice e, consequentemente, abrir a Pedro Paulo o caminho sucessório. No entanto, a revelação de um vídeo íntimo dele gravado em uma ligação de WhatsApp por uma mulher trouxe novas preocupações ao prefeito. O caso, somado ao da ex-mulher, passou a ser visto como um possível desgaste para a tentativa de reeleição.


Fonte: O GLOBO