PL, partido de Ramagem e Engler e que faz parte da coligação de Nunes, impactou no cálculo por ter a maior bancada na Câmara Federal

Os candidatos a prefeito ligados ao bolsonarismo Alexandre Ramagem (PL), Ricardo Nunes (MDB) e Bruno Engler (PL) — Foto: Fabiano Rocha; Reprodução e Divulgação

 Nas três principais capitais do país, os candidatos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terão mais tempo de rádio e televisão nas campanhas para as prefeituras. No Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte, os postulantes do PL ou de coligação com a sigla terão a maior parcela do horário eleitoral, que será exibido a partir do próximo dia 30. São 10 minutos destinados aos candidatos ao executivo, exibidos duas vezes ao dia.

A vantagem se justifica por causa do desempenho da legenda nas eleições de 2022, quando elegeu 99 deputados federais, critério para definir os minutos que cada candidato terá. O GLOBO calculou os tempos dos postulantes nas capitais dos maiores colégios eleitorais do país. A conta obedece à legislação — os partidos que não atingiram a cláusula de barreira não têm direito a inserções, enquanto o restante reparte o tempo a partir de sua representatividade na Câmara Federal. Em caso de coligações muito grandes, só as seis maiores siglas são consideradas.
O tempo de TV de cada candidato — Foto: Editoria de Arte

Nem mesmo a grande aliança formada pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) conseguiu desbancar o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), no Rio. Esta será a primeira campanha desde 2008, quando concorreu ao Executivo pela primeira vez, que Paes não terá o maior tempo de televisão na capital fluminense — a diferença entre os candidatos é de dois segundos.

Articuladores do prefeito avaliam que a diferença é sutil e não terá impactos em sua campanha. Eles argumentam que Paes, em busca do seu quarto mandato, tem muito conhecimento e saberá usar o tempo para mostrar os avanços de sua gestão.

Com três minutos e 28 segundos, o PL planeja usar o espaço para tornar o deputado e ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) mais conhecido entre o eleitorado da capital. Segundo o último Datafolha, seu nome é conhecido por 37% da população. Suas peças irão vinculá-lo a Bolsonaro e apresentar o seu programa de governo.

Outro prefeito que também ficou atrás no tempo de TV é Fuad Noman (PSD), de Belo Horizonte. Lá, quem lidera o ranking é o deputado estadual Bruno Engler (PL), com nove segundos de vantagem.

Maior alcance


Em um cenário em que os candidatos se embolam nas pesquisas, a televisão pode ser um diferencial na capital mineira. Ao GLOBO, Engler relembrou que, em 2020, ficou em segundo lugar no primeiro turno, pelo PRTB, sem ter tido participação no horário eleitoral, mas ele reconhece o poder da TV:

— Será uma oportunidade ímpar para me apresentar. A nossa campanha é disparada a mais forte nas redes sociais, mas sabemos que isso não atinge todas as pessoas — diz o deputado. — Evidentemente que estarei ao lado de Bolsonaro e (do deputado federal) Nikolas Ferreira, mas o principal será contar (ao eleitor) os problemas da cidade.

Citada pelo candidato, a campanha nas redes sociais ganhou força ao longo dos anos. Em São Paulo, por exemplo, o candidato Pablo Marçal (PRTB) não terá tempo de televisão, mas já se consolida como líder de engajamento.

A estratégia parece ter surtido efeito, uma vez que ele aparece com 14% das intenções de voto, empatado tecnicamente com José Luiz Datena (PSDB) na última pesquisa Datafolha. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) lideram a disputa em empate técnico.

Na capital paulista, quem terá a maior parcela do horário eleitoral será Nunes, que tem o apoio do ex-presidente. Além de Bolsonaro, o prefeito tem ao seu lado outros grandes partidos como PP, PSD e União Com isso, ficou com seis minutos e 30 segundos, além de 54 inserções de 30 segundos ao longo da programação. O segundo com mais tempo é Boulos, com 2 minutos e 22 minutos e 19 inserções.

Historicamente, em São Paulo, o tempo de televisão costuma ditar o vencedor; tem sido assim desde 2008. Em 2016, João Doria foi eleito com maior tempo de televisão, o que se repetiu com Bruno Covas há quatro anos.

O cientista político Felipe Borba, da Unirio, lista os motivos que fazem os candidatos que aparecem em rede nacional largar à frente dos demais.

— A TV aberta é um tipo de informação que passa credibilidade e existe há mais de 50 anos; as pessoas estão acostumadas. Não estar no horário eleitoral tem um custo muito alto para compensar — pontua.

Apesar de a importância da propaganda eleitoral ser reconhecida por especialistas, há exemplos pelo país de candidatos que tiveram bom desempenho com pouco ou nenhum tempo de televisão. Quando concorreu à Presidência pela primeira vez, em 2018, Bolsonaro tinha apenas oito segundos de tempo de TV. Quem liderava o espaço nos meios de comunicação era o atual vice-presidente Geraldo Alckmin (então no PSDB, hoje no PSB), com cinco minutos e 32 segundos — Alckmin foi o quarto colocado naquela disputa.

Fora da linha

Naquele mesmo ano, dois governadores se elegeram nessas condições — Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, com seis segundos, e Wilson Witzel (PSC), no Rio, com 27 segundos.

No Executivo municipal, o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD) conseguiu chegar no segundo turno, em 2016, com apenas dez segundos de TV. Visto como outsider, ele perdeu as eleições para Edivaldo Júnior (PDT), por 4%. Quatro anos depois, contudo, Braide se elegeu prefeito e, este ano, irá disputar à reeleição. Seu principal rival, o deputado federal Duarte Júnior (PSB) terá mais tempo de televisão, uma vez que consolidou uma grande coligação, que vai do PL à federação PT-PV-PCdoB.


Fonte: O GLOBO