Estimativa aponta que 5,9 milhões de jumentos sejam mortos anualmente para produzir colágeno para a indústria farmacêutica chinesa

Em uma pequena propriedade nos arredores de Fortaleza, encontra-se um verdadeiro santuário para jumentos resgatados, vítimas de abandono e maus-tratos. Márcia Freitas, a fundadora do abrigo Menino Vaqueiro, é conhecida na região como a "louca dos jumentos", como ela mesma conta, devido à sua dedicação aos animais. Ela tem 68 jegues, atualmente.

Márcia, de 36 anos, deixou o trabalho como cuidadora de crianças em uma creche para se dedicar aos animais e evitar também o abate desordenado de jumentos para exportação. "Os animais para mim, os jumentos, principalmente, são mais do que filhos. É como se fossem um pedaço de mim".

Ao todo, ela já resgatou 96 animais, entre jumentos e cavalos, todos em condições críticas de saúde. "Eu cuido deles e eles vão ficando aqui. Não tenho coragem de colocá-los para adoção, pois sei que sofreriam novamente", explica.

Márcia sonha em adquirir terreno de abrigo para cuidar de jumentos; animais que enfrentam ameaça de extinção por alta demanda da China — Foto: Pollyana Araújo

Márcia também enfrenta a ameaça constante de roubo dos animais. Por duas vezes, criminosos invadiram o abrigo e levaram os animais supostamente com a intenção de vendê-los.

Além do abandono, muitos jumentos no Nordeste enfrentam o destino cruel do abate para exportação de carne e pele, principalmente para a China, que usa o colágeno do jumento para a preparação do ejiao, um remédio tradicional chinês sem eficácia científica comprovada.

A estimativa da organização The Donkey Sanctuary - uma organização britânica dedicada ao bem-estar desses animais - é que 5,9 milhões de jumentos sejam mortos anualmente para produzir colágeno para a indústria do ejiao, número que pode chegar a 6,7 milhões até 2027. Essa alta demanda pode levar à extinção do animal.

Mulher adota 68 jumentos no Nordeste e salva animais que enfrentam ameaça de extinção por alta demanda da China — Foto: Pollyana Araújo

Sob a pressão de ativistas que indicam maus-tratos e crueldade nos abatedouros, tramita no Congresso Nacional um projeto que proíbe a prática no Brasil.

Márcia lamenta essa realidade e tenta resgatar o maior número possível de animais para evitar esse fim trágico.

"Se eu pudesse, teria aqui uns 300 a 400 jumentos. É uma das maiores tristezas saber que eles estão sendo abatidos. Tudo o que faço é com muito amor. Os animais mais doces e carinhosos que você pode imaginar são os jumentos", comenta.

O abrigo foi fundado há 14 anos e, desde então, sobrevive de doações. São inúmeras dificuldades financeiras, considerando os altos custos para manter as dezenas de animais.

Jumentos são explorados por alta demanda de colágeno na China — Foto: Pollyana Araújo

Márcia tem um sonho: comprar um terreno para estabelecer uma sede definitiva para o abrigo. "Todo mês é um sofrimento para conseguir pagar o aluguel. Se conseguíssemos comprar um espaço, os animais teriam uma vida mais segura", desabafa.

No abrigo, ela conta com a ajuda de três funcionários e uma veterinária que presta serviços.


Fonte: O GLOBO